Depois de estudar o diretor, pesquisar sua obra e seu filme mais representativo, a análise é bem diferente. É difícil se ater apenas à história. Detalhes técnicos saltam às nossas vistas e reparamos em coisas que parece que mais ninguém repara... Uma visão mais detalhista e ao mesmo tempo mais amadurecida. É possível analisar vários aspectos que fizeram do filme o sucesso que é até hoje.
Podemos falar da narrativa ousada, nada linear, que entrelaça histórias principais e secundárias, com muita ação. A história tem mais de um núcleo dramático e explora a temática do crime por diferentes ângulos. Isso acarreta em um tempo maior de duração da obra, mas não atrapalha o dinamismo, pois as histórias são costuradas de maneira bem interessante pelo fio condutor chamado Tarantino.
Ousada também é a construção das personagens, longe da lógica maniqueísta. Não existe bem ou mal perfeitamente delimitado. Vincent Vega é um assassino descontraído, de comportamento espontâneo e até um pouco inconseqüente de quem acabou de voltar da Europa e ainda tem um quê de deslumbrado. Jules Winnfield, apesar de manter o humor, está num momento de autoconhecimento e descoberta da espiritualidade. Na cena escolhida para o remake nota-se de um lado o tom calmo, como o de quem ensina uma lição a um discípulo, e de outro a inquietude de quem não está preparado para aceitar e não compreende. Mia Wallace, conforme já foi dito, também não é uma mocinha convencional. Tampouco os personagens de Bruce Willis (Butch Coolidge) ou do bandidão Wallace podem ser descritos como estereótipos.
Diálogos sobre coisas corriqueiras, que aparentemente não influenciam em nada no enredo, quebram a tensão do filme e introduzem o humor característico do diretor. As curiosidades sobre como são chamados sanduíches (royale with cheese) e a discussão sobre o teor ofensivo de uma massagem nos pés, por exemplo, servem para deixar o caminho até o assassinato marcado descontraído, como se o trabalho prestes a ser executado fosse o mais natural do mundo. Falando em natural... e o Travolta no banheiro, duas vezes!
Outra coisa característica, mas desta vez dos filmes americanos em geral, é a participação da comida como importante objeto de cena: milk shake de 5 dólares, fast food, pedido de café exagerado com panquecas e doces mesmo num hotelzinho simples e o próprio café da manhã com muito bacon reproduzido por nossa produtora...
Outro ponto de destaque é a trilha sonora, que foi compilada em cd e comercializada. A faixa principal (Mirsilou) até hoje é reutilizada para diferentes fins e a capa com Uma Thurman é uma das imagens mais famosas referentes ao filme (e já foi postada aqui anteriormente inclusive).
Palavrões, palavrões, palavrões! Linguagem informal e muitos palavrões permeiam a maioria dos textos. Não sei até que ponto eles estavam escritos mesmo no roteiro ou foram incorporados pelos atores, mas de qualquer forma, o texto faz sobressair a interpretação. Não foi a toa que Jackson e Travolta também ganharam prêmios.
Assim como o filme não se propõe a fazer juízos de valor, não defino Pulp Fiction como bom ou ruim. Visão exagerada? Distorcida? Crítica? Talvez. Gosto da dose de ironia!
Thaís Mocelin