Quando o ano começou e vi Cinema fazendo parte da grade do curso, pensei com meus botões “o que alho tem a ver com bugalhos?” Hoje, entendo e recomendo.
O ano está repleto de expectativas frustradas em relação ao curso de jornalismo. Caiu a necessidade do diploma. O projetor de multimídia não funciona. A sala é quente e apertada. A gripe Suína. Falta comunicação... Blá, blá, blá...
Cinema, para mim, tem sido a redenção.
... O curta
Então veio a gravação do curta, tínhamos a impressão que não seria uma tarefa fácil. Porém, a realização superou em muito nossas expectativas.
Foi uma Odisséia. O roteiro veio das mãos de “Deus” e da “Fada Madrinha” literalmente.
Este fato por si só, já era o prenúncio de um bom começo. No sorteio de equipes para as gravações fomos agraciados com o número 01. Organizamos a tropa, dividimos as tarefas e demos início ao trabalho.
Aconteceu tudo o que os professores já sabem, por experiência, e mais um pouco.
... Dom Quixote e Sancho Pança
A Impressione, historicamente, opta por projetos ousados. Desta vez não foi diferente. Tínhamos apenas que parar um elevador em funcionamento por 16h. Sem saber que isto era quase impossível.
Mesmo depois de conseguir o apoio cultural da Construtora Hugo Peretti e, sabendo da importância da conquista, nos demos ao luxo de achar que não era adequado. Fomos tal qual Don Quixote e Sancho Pança buscar moinhos de vento ou seja, condomínios habitados para bloquearmos o elevador por dois dias inteiros. Começa então a saga. Encontramos pessoas boníssimas, delicadas, interessadas em ajudar a produção cinematográfica local. Mais, os vizinhos não queriam saber de utilizar escadas, fazer um pouco de exercícios e dar uma força ao coração. Ou ainda, fazer um exercício de humildade utilizando o elevador de serviço.
... No limite
Bom, isso tudo foi aprendizado. Já com as locações definidas, tarefas divididas, começamos a produção. Sem saber que o pior e o inusitado estavam por vir.
“Creio que a Celina e o Almir, professores da disciplina, se inspiraram no reality show ‘No limite” para construir esta tarefa. Pelo menos foi assim que nos sentimos na maior parte do tempo. Tempo! Que tempo? A Falta dele, isto sim. Faltando 24h para o início das gravações descobrimos que os dias marcados não seriam mais possíveis. Isto depois do cronograma pronto a ajustado ao elenco, composto por 10 atores, todos com agendas apertadíssimas. Readequar os horários dos atores ao nosso pouco tempo de gravação não foi tarefa fácil. Haja adrenalina.
... Início das gravações
Nos reunimos com um técnico e produzimos com outro. Afinal “Deus” agora o do céu, foi generoso e deu tudo certo. Já tínhamos purgado o suficiente.
Amanhece quarta-feira, depois de uma noite mal dormida, acordamos às 6h, organizamos as coisas e começamos a gravar. A primeira locação foi um céu. Gravamos na casa de “Deus” aqui na terra. Tivemos o primeiro contato com a filmagem do roteiro e deu para confirmar que realmente tínhamos uma ótima história nas mãos e bons atores. Todo o trabalho preparatório da equipe começava a dar resultado.
... A cachorrada
Nesta locação o inusitado foi durante a externa. Eu (responsável pela produção) saio correndo pela rua enxotando os cachorros para que não chagassem perto da nossa cadela-atriz Laika e fizessem com que todos os cães da vizinhança latissem, comprometendo nosso áudio. Foi uma cena...
... Passando o rodo
No dia seguinte, começam as gravações na locação do prédio onde esta o elevador. É o inicio do maior desafio. Um condomínio classe A, em fase de acabamento. Formado por 3 prédios de oito andares. No local, dezenas de pedreiros e mestres de obras. A partir daí os fatos que se seguem são absolutamente reais embora possam parecer frutos da nossa criativa imaginação. Como disse a Thais paramos a obra.
Primeiro, tínhamos que limpar o local que estava cheio de pó e resíduos de construção. Estávamos com vassouras, panos, rodo, esfregão, detergentes, e lenço na cabeça, faxinando e discutindo detalhes técnicos do curta, quando de repente, Sr. Hugo Peretti, em pessoa, chega no andar para nos conhecer e ver o que ele tinha autorizado no seu empreendimento. Então, eu com rodo e pano em riste, me viro para ele que me observa de cima a baixo. Nesta hora, queria que o chão se abrisse e que eu desaparecesse.
Afinal de contas a impressão que ele tinha de mim era a do telefone, quando me apresentei como produtora de cinema realizando um curta e falei da importância do seu apoio cultural para concretização do nosso projeto e tudo mais.
Passado o susto respirei fundo, sem perder a pose apresentei a equipe. Falei do projeto. Expliquei que o elevador estava adaptado porque fazia parte, compunha o cenário. Tentei ao máximo sustentar uma imagem intelectual para contrapor à situação em que nos encontrávamos. Ele nos olhava entre curioso e estupefato. Conseguimos o apoio dele para segurar o elevador e o resto enquanto estivéssemos ali gravando.
Este é um episódio a parte. Além de menino dos nossos olhos é nele que se passa a maior parte da história.
O diretor sugeriu que o adequássemos, pois além de cenário ele é um personagem e complementa a linguagem narrativa. Então foram 400 taxinhas, alguns dedos furados e um quase homicídio. Além de tudo tínhamos que cuidar para que os pedreiros não utilizassem nosso elevador pronto para as tomadas, com seus carrinhos cheios sei lá do que, sujando e destruindo tudo. Quando ouvíamos som de furadeiras ou qualquer outro que comprometesse o áudio, tínhamos que parar e descobrir da onde vinha e pedir para cessar. Saímos de lá com o sentido da audição mais aguçado.
Quero fazer uma correção. Os pedreiros não foram só vilões no nosso filme. Muitos deles foram mocinhos e terão seus nomes nos agradecimentos da ficha técnica.
Foi uma experiência rica, maravilhosa. Tudo é possível com eficiência, planejamento e organização. Temos uma equipe que se fortalece a cada projeto. Discute idéias o que é positivo e que se une e se apóia para realizar o trabalho da melhor forma possível.
Lembrei novamente que não tínhamos muito tempo. Era o tempo dos atores, tempo do técnico, tempo da obra, tempos de angústias e gargalhadas. ...O não pagamento das horas-extras e a nossa falta de tempo.
Seguramos Sr. Hugo Peretti, os pedreiros, o elevador, o Sidnei, os atores e a nossa ansiedade. Porém, o tempo este é indelével ele passa.
... Sobre o que cinema tem a ver com jornalismo? Tudo. Ontem estava no carro e ouvi na Band News, que no sábado agora, a filha de Woody Allen está vindo para o Brasil, para um encontro com realizadores da O2 Filmes (Fernando Meireles – Cidade de Deus, Ensaio Sobre a Cegueira) e da Conspiração Filmes (Claudio Torres, Andrucha Waddington, Lula Buarque – Dois Filhos de Francisco de Breno Silveira) Graças a disciplina e a Cineacademia, hoje eu consigo abrir estes parênteses e completar a informação. Ligar nomes a empresas e compreender a importância deste encontro para o cinema brasileiro e sul americano.